Infeções vaginais
A aparecimento de infeções vaginais é algo que acontece frequentemente. Contudo, um corrimento vaginal translúcido e sem um cheiro intenso ou qualquer outra alteração, consequência das flutuações hormonais do ciclo menstrual, são situações consideradas normais.
O que são infeções vaginais?
A aparecimento de infeções vaginais é algo que acontece frequentemente. Contudo, um corrimento vaginal translúcido e sem um cheiro intenso ou qualquer outra alteração, consequência das flutuações hormonais do ciclo menstrual, são situações consideradas normais.
Este corrimento representa um equilíbrio entre as células da mucosa vaginal e a flora microbiana que habita a mucosa vaginal. A existência de um corrimento saudável é uma forma natural do organismo eliminar as células mortas, prevenir o desenvolvimento descontrolado de leveduras e/ou de bactérias patogénicas, promovendo assim um equilíbrio saudável. Porém, um corrimento fora do vulgar, o surgimento de comichão, odor desagradável ou outros sinais de desconforto são um sinal de alerta.
Uma infeção vaginal pode acontecer devido a um desequilíbrio da flora vaginal ou da entrada de bactérias patogénicas na vagina. Neste caso, o corrimento vaginal altera-se, podendo mudar de cor, textura ou cheiro.
- Outra situação que pode promover o desenvolvimento de infeções vaginais é a diminuição do conteúdo de glicogénio do epitélio vaginal, que ocorre geralmente após a menopausa ou na infância. Como resultado, as mulheres pós-menopáusicas, que não fazem terapêutica hormonal com estrogénio, bem como as meninas antes da puberdade, têm menos espécies de microrganismos benéficos e, consequentemente, um pH vaginal menos ácido em comparação com mulheres em idade reprodutiva. Isto leva a um aumento do pH vaginal, que resulta num risco aumentado da proliferação de microrganismos patogénicos na mucosa, e consequentemente, um risco aumentado de infeções vaginais.
- Outros fatores potencialmente disruptores da flora vaginal são as doenças sexualmente transmissíveis, o uso de antibióticos, a existência de corpos estranhos como tampões, a utilização de produtos de higiene desadequados, a gravidez, a atividade sexual e os métodos contracetivos.
- “Vulvovaginite” é o termo geral que define alterações na mucosa da vagina provocadas por infeção, inflamação ou outras alterações no equilíbrio saudável da vagina.
- As infeções mais comuns são a candidíase vulvovaginal, a tricomoníase e a vaginose bacteriana, que juntas representam mais de 90% das infeções vaginais. A vaginose bacteriana e a candidíase vulvovaginal não são consideradas doenças sexualmente transmissíveis, contudo a tricomoníase é, pelo que é recomendável que o parceiro seja também tratado.
Uma infeção vaginal não é o mesmo que uma infeção urinária. Uma infeção urinária afeta a bexiga ou os tubos que transportam a urina para fora do corpo, ou seja, o sistema urinário, enquanto a vagina faz parte do sistema reprodutor.
Diagnóstico de infeções vaginais
Para tratar adequadamente cada uma das infeções referidas anteriormente, é fundamental a realização de um diagnóstico correto, dado que um diagnóstico incorreto pode resultar num tratamento não eficaz.
- Na maioria das vezes, o diagnóstico resulta da análise, por parte do médico, da história clínica e da interpretação dos sintomas. No entanto, adicionalmente, pode ser necessária a realização de um exame à zona genital. Neste exame é utilizado um espéculo para que o médico possa observar a vagina e poderá ser necessária a recolha de uma amostra do corrimento ou das células da mucosa da vagina, utilizando uma espécie de cotonete. Esta amostra será então enviada para um laboratório para análise.
- Pode também ser pedida uma amostra de urina, que é usada para despistar uma gravidez ou uma infeção urinária.
- Cerca de 10% das mulheres têm infeções vaginais recorrentes (mais de três vezes por ano). Por vezes, pode parecer mais simples e rápido o tratamento com medicamentos de venda livre. Contudo, caso os sintomas sejam frequentes, é importante que seja observada por um profissional de saúde para que o diagnóstico seja correto, antes de iniciar um tratamento.
Sintomas
Os sintomas da candidíase vulvovaginal são provocados por uma levedura chamada Candida albicans e podem passar despercebidos. Contudo, a maioria das mulheres pode notar um corrimento vaginal mais espesso e esbranquiçado (pode parecer-se com queijo fresco), comichão, sentir dores ao urinar e/ou nas relações sexuais e a pele da zona da vagina pode apresentar-se avermelhada ou ferida.
A candidíase vulvovaginal não é uma doença sexualmente transmissível, mas tem sintomas semelhantes aos de outras infeções vaginais (vaginose bacteriana, uma infeção bacteriana ou tricomoníase, transmitida sexualmente), pelo que é importante fazer um despiste para um tratamento mais eficaz.
A infeção por Tricomonas, ou tricomoníase, é a infeção sexualmente transmissível não viralmais comum no mundo. O período de incubação desta infeção pode variar entre 4 e 28 dias e, é comum, que a tricomoníase coincida com outras infeções vaginais, nomeadamente a vaginose bacteriana. As mulheres são normalmente mais afetadas do que os homens.
Cerca de 70% das pessoas com tricomoníase não apresentam quaisquer sinais ou sintomas da infeção. Quando há sintomas, estes podem variar entre irritação ligeira a inflamação grave e podem aparecer e desaparecer ao longo do tempo.
As mulheres com infeção por Tricomonas podem sentir:
- Comichão, ardor, vermelhidão ou inchaço na zona genital
- Desconforto ao urinar, com dor na zona inferior do abdómen
- Corrimento claro, esbranquiçado, amarelado ou esverdeado, com odor a peixe
Estes sintomas podem agravar-se com a menstruação.
Uma infeção por Trichomonas vaginalis pode também tornar as relações sexuais desconfortáveis, aumentar o risco de infeção por VIH (vírus da imunodeficiência humana) ou de outras infeções sexualmente transmissíveis, bem como resultar em complicações na gravidez. As mulheres grávidas com uma infeção por Trichomonas vaginalis têm maior probabilidade de partos prematuros com bebés de baixo peso à nascença.
A maior parte das mulheres com vaginose bacteriana não apresenta sintomas. No entanto, alguns dos sintomas podem ser:
- corrimento vaginal esbranquiçado ou acinzentado
- dor, comichão ou ardor na vagina
- cheiro a peixe, especialmente depois de relações sexuais e durante a menstruação
ardor ao urinar
comichão na zona vaginal
A vaginose bacteriana resulta de um desequilíbrio entre as bactérias “boas” e as bactérias “más” da vagina.
Fazer lavagens frequentes, partilhar brinquedos sexuais, ter novos(as) ou múltiplos(as) parceiros(as) sexuais ou não usar preservativo pode aumentar o risco de vaginose bacteriana. A vaginose bacteriana raramente afeta as pessoas que nunca tiveram relações sexuais e a transmissão da doença não ocorre em casas de banho públicas, no contacto com roupa de cama ou por utilização de piscinas.
A vaginose bacteriana é tratada com antibióticos, pelo que a sugestão é que procure aconselhamento médico caso apresente alguns sintomas. O tratamento ajudará também a reduzir o risco de outras infeções sexualmente transmissíveis, ou deter um parto prematuro, caso esteja grávida.
Parceiros homens de mulheres com vaginose bacteriana, não precisam de tratamento. Contudo, avaginose bacteriana pode transmitir-se entre parceiras.
Hábitos de vida saudáveis
As infeções vaginais são um problema global e podem representar consequências graves como dor pélvica crónica, infertilidade, aborto espontâneo, maior risco de transmissão de VIH (vírus da deficiência humana) e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Como tal, é importante a prevenção destas infeções. E como é que o poderemos fazer?
- É do senso comum que manter hábitos de vida saudáveis beneficia a saúde e o bem-estar. Apesar de escassos, há estudos que demonstram uma menor percentagem de infeções vaginais associadas a uma manutenção de hábitos de vida saudáveis. Exemplos de hábitos de vida saudáveis são o baixo consumo de açúcar, o consumo de produtos lácteos, de vegetais e de frutas; a prática de atividade física para manter o peso saudável; a gestão do stress e da saúde mental e a manutenção de uma higiene vaginal adequada.
- No que diz respeito à prevenção de infeções vaginais bem como à melhoria da saúde vaginal, o consumo diário de legumes e fruta frescos reduz a incidência de infeções vaginais, enquanto o consumo de doces e açúcares aumenta o risco de infeção vaginal. Alimentos com pré e probióticos (kombucha, iogurte natural, kefir, picles, etc.) promovem as defesas naturais do organismo, e também da vagina. O consumo excessivo de açúcar pode favorecer as infeções fúngicas, como as candidíases.
- Fazer exercícios de meditação e de respiração consciente, assim como dormir bem [AS1] são formas de gerir o stress das mulheres, promovendo o seu bem-estar geral.
- Apesar da enorme oferta de produtos para manter uma higiene vaginal, a utilização de um sabonete suave e sem perfume é a melhor opção para manter a flora vaginal saudável, bem como a utilização de roupa interior de algodão e não demasiado apertada.
- Não menos importante, para a manutenção da sua saúde vaginal deve praticar-se sexo seguro. Fazer despiste regular de doenças sexualmente transmissíveis bem como perguntar ao parceiro se foi testado recentemente, é um passo relevante para manter um bem-estar geral.
Alimentação, nutrição e suplementos / tratamentos
Apesar da relevância de uma alimentação saudável de modo a promover a saúde vaginal, outra opção para a manutenção de uma boa saúde vaginal é a toma de suplementos. Suplementos probióticos com as bactérias específicas da saúde vaginal são os mais importantes: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus rhamnosus e Lactobacillus reuteri.
- A espécie Lactobacillus é a mais abundante das bactérias “boas” encontrada na vagina. O consumo de probióticos com Lactobacillus pode ajudar e beneficiar o bem-estar da vagina permitindo o equilíbrio de outras espécies de bactérias. Adicionalmente, pode melhorar os níveis de acidez da vagina, impedindo que microrganismos patogénicos adiram à mucosa vaginal e, promover o sistema imunitário no geral.
- Na realidade, é recomendável tomar suplementos com Lactobacillus depois de fazer um tratamento com antibióticos. Alimentos que contêm probióticos incluem comidas e bebidas fermentadas como os iogurtes naturais e o kefir, o kimchi e chucrute, os pickles, o tempeh e a kombucha.
- Os compostos prebióticos podem também ajudar a estabilizar o pH vaginal por promoverem o crescimento de bactérias saudáveis. Os prebióticos estão presentes em alimentos como o alho francês, as cebolas, os espargos, o alho, a aveia, o trigo integral, a soja e as bananas verdes. Contudo, é importante alertar que os prebióticos podem piorar situações intestinais como a síndrome do intestino irritável.
- As candidíases, infeções vaginais provocadas por um fungo, podem também ser prevenidas reduzindo o consumo de açúcares refinados, conservantes e leveduras. O óleo de coco e o alho podem ajudar na prevenção de candidíases pelas suas funções antifúngicas e anti-inflamatórias.
Em conclusão, há muitos nutrientes que contribuem para a saúde vaginal. Uma dieta saudável, rica em nutrientes, pode melhorar os vários sistemas do nosso organismo.
Produtos
Bibliografia
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