Março 13, 2023
Entrevista Dr. Mário de Sousa – Estrofito
Atualmente, a menopausa é um tema falado cada vez mais, mas nem sempre foi assim. Tal como o Dr. Mário nos disse: há vários séculos, as mulheres não viviam tempo suficiente para experienciarem os sintomas da menopausa.
Recentemente, a Cantabria Labs teve a oportunidade de entrevistar o Dr. Mário de Sousa. Médico Ginecologista. O Dr. Mário de Sousa exerce a especialidade em Medicina privada e liderou o cargo de Presidente na Sociedade Portuguesa de Menopausa por dois mandatos e vice-presidente durante um mandato.
Atualmente, a menopausa é um tema falado cada vez mais, mas nem sempre foi assim. Tal como o Dr. Mário nos disse: há vários séculos, as mulheres não viviam tempo suficiente para experienciarem os sintomas da menopausa. Quando começaram a sobreviver, também quase não existiam queixas nem manifestações visíveis, pois passavam grande parte do seu tempo em casa e o tema menopausa não era abordado. É quando a mulher começa a ter um emprego e uma vida social ativa que a menopausa surge com grande influência para o seu dia-a-dia.
Dr. Mário de Sousa: cada vez a idade da reforma é mais tarde e conforme mais tarde, mais anos a trabalhar em pós-menopausa, com sintomas que vão alterar, quer o seu regime de trabalho, quer o seu comportamento, quer a sua atitude perante os próximos.
Então o que é isso de menopausa Dr. Mário?
Dr. Mário de Sousa: A menopausa é a coisa mais simples que se possa ter, é a última menstruação. Tal e qual como a menarca é a primeira menstruação e inicia-se a idade fértil, a menopausa é a última menstruação e inicia-se a idade não fértil. O diagnóstico é clínico, basta que a mulher tenha entre os 45 e os 55 anos de idade, que tenha alguma sintomatologia e que não tenha menstruação há um ano.
Qual é a diferença entre Menopausa e Perimenopausa?
Dr. Mário de Sousa: Perimenopausa é um período de transição. É aquele período que a mulher passa pelas irregularidades menstruais, quer no seu timing de aparecimento, quer na sua duração. Menopausa é estar um ano sem menstruações. Há uma confusão com outra situação que é a “pré-menopausa”, que é tudo aquilo que está antes da menopausa.
Quais são os principais sintomas das pacientes quando lhe surgem na sua consulta? Consegue identificar sem nenhum exame em particular?
Dr. Mário de Sousa: Sem nada de especial, só por queixa. Se é sintomática, o que ela se vai queixar, essencialmente, é de sintomas vasomotores, isto é, os calores, os suores, os calafrios. Esta situação pode ser extremamente moderada, como pode ser extremamente pesada; pode acontecer várias vezes ao dia, como só uma ou duas vezes; há mulheres que só têm de dia e outras que só têm de noite. Esta é a grande queixa na fase inicial. Habitualmente, estes sintomas mantêm-se nos primeiros 5 a 8 anos e depois começam a diminuir.
É por isso é que se usavam os leques antigamente. Ainda hoje às vezes se vê o leque. De facto, os sintomas vasomotores acontecem de uma forma muito rápida, muito brusca e começam, habitualmente, na zona do peito para cima, acompanhada de rubefação e de suores. É disso que as mulheres mais se queixam e tentam fugir e o leque funciona muito bem. Esses são os sintomas chaves, mas podem desencadear uma outra alteração que é: o sono. Os ingleses chamam-lhe de “broken sleep”, em que a mulher vai acordar com a sensação de calor e com suores e depois volta a adormecer e vai passando a noite nisto: em sono partido.
Depois vêm as alterações do humor. Eu não lhe chamo alterações porque não acho correto, acho que é muito mais uma labilidade de humor. Tanto está muito alegre, como está muito triste. E curiosamente quem se queixa mais e melhor disto não é a mulher, mas sim a sua família.
Há mulheres que curiosamente também referem as enxaquecas nesta fase. Depois podem aparecer, por exemplo, as palpitações. Uma área que a mulher também valoriza é a área da sua sexualidade. E porque é que valoriza? Porque a queda hormonal vai diminuir o desejo sexual. Outra coisa que poder aparecer é a secura vaginal, a fragilidade das paredes vaginais e de toda a área vulvar, o que vai despertar um mal-estar, senão mesmo dor, e, portanto, a partir daí deixa de estar presente uma sexualidade satisfatória.
Depois vem a parte cardiovascular, como vem o mal-estar em termos musculares e articulares, como vem também depois a osteoporose já numa fase muito mais adiantada, para lá dos 60 anos.
Estas são as queixas principais que as mulheres trazem quando procuram o médico. Querem saber se estão em menopausa e fazer o seu diagnóstico. E querem saber se estão em menopausa porquê? Uma coisa muito simples afinal, é que deixam de correr o risco de engravidar. E curiosamente há umas mulheres que valorizam muito isto.
A menopausa tem de ser personalizada. Tal e qual como vai ser personalizado depois o tratamento. Se isto não for assim, não estará bem e não trará resultados.
Falando num aspeto importante em termos de tratamento, muito se fala em termos de terapêutica hormonal de substituição (THS). O que é que é isto?
Dr. Mário de Sousa: É a coisa mais simples do mundo: é manter o clima hormonal que o ovário deu àquela mulher, até ali. O que fazemos quando falamos em tratamento hormonal é personalizar a terapêutica. São tidas em conta as chamadas contraindicações absolutas e as contraindicações relativas e se de facto ela não tem nem uma nem outra, aceita e faz a terapêutica hormonal. Depois, tem de ser personalizada a dose e a via de administração, e por fim, temos de personalizar outra coisa que é o tempo em que ela vai fazer terapêutica hormonal. À partida 5 anos, poderá eventualmente prolongar para 10 anos, e, excecionalmente, poderá ir para além disso. Sempre muito bem vigiada. Porque de facto, há aqui coisas que podem surgir e tem de se estar atento a isso.
Agora, é evidente que tem efeitos benéficos, um deles por exemplo é a sintomatologia vasomotora, tem efeitos benéficos ao nível cardiovascular, se for bem selecionada, e tem efeitos benéficos na osteoporose.
E as mulheres têm alternativas a essa terapêutica hormonal de substituição?
Dr. Mário de Sousa: As mulheres têm de ter alternativas, se não a medicina não existia. Temos sempre de dar alternativas, e atualmente há múltiplas alternativas. Desde a medicina tradicional chinesa até aos chás, tenho visto tanta coisa que acho curiosíssimo, mas acho que todos nós temos a noção que de facto são os fitoestrogénios (ou estrogénios vegetais) de facto, a alternativa de eleição. Porquê? Porque os fitoestrogénios são todos deles derivados, como as isoflavonas.
A daidzeína e Genisteína, essencialmente, fazem parte da composição das isoflavonas e têm efeito marcado sobre a sintomatologia vasomotora, isto é uma realidade que nós temos. Agora, de tudo o que existe no mercado, todas elas atuam? Todas elas deviam atuar, mas nem sempre é assim. Há uma coisa que se chama dose-efeito e doses no mercado existem muitas, mas todos nós sabemos que é preciso pelo menos 80 a 100 miligramas, sem isso, não vai chegar. Por outro lado, também sabemos que tem a ver com o método de extração, isto é extremamente importante, sem isto estamos sujeitos a tudo.
Há no mercado doses que nem chegam a ser terapêuticas, como por exemplo composições com 20 miligramas de isoflavonas e depois têm uma data de vitaminas e de sais minerais. Mas o que nós precisamos são das isoflavonas. Claro, partindo do princípio de que estamos a pensar numa dose correta de isoflavonas (80 a 100mg). E depois temos aqui uma outra barreira que é a capacidade que algumas mulheres têm, ao nível intestinal, de fazer a passagem das isoflavonas para o S-equol, e esse é que vai potenciar o efeito da daidzeína e genisteína.
E o que é que é isso do S-equol?
Dr. Mário de Sousa: É o produto que resulta da metabolização ao nível das células intestinais, que algumas mulheres fazem e outras não. Daí nós sabermos quais as mulheres que reagem bem e que ao fim de 4 semanas já observamos que estão a reagir muito bem à terapêutica e outras não.
Podemos dizer, então, que o S-equol no seu entender será uma excelente alternativa também à terapêutica hormonal
Dr. Mário de Sousa: Para além de termos as isoflavonas, se conseguirmos associá-las ao S-equol, é evidente que vamos ter um efeito muito mais marcado do produto anterior. Outra coisa que se faz, é a associação da melatonina às isoflavonas, pois esta vai ajudar no sono. E no início da nossa conversa nós falámos do sono partido e ela vai ajudar aí muito bem.
Dr. Mário de Sousa: Acima de tudo queremos que as mulheres tenham qualidade de vida e se sintam bem. Hoje a mulher tem um papel social extremamente marcado e vai tendo cada vez mais, eu acho. E a imagem tem um grande papel, e, se para além da imagem, ela tem uma forma de estar e de se relacionar com os outros agradável não prejudicada pela sintomatologia de uma menopausa instalada, ainda melhor.
Portanto a mulher tem muitas alternativas, alternativas seguras, muitas opções e esta é mais uma etapa na vida da mulher.
Dr. Mário de Sousa: Só, mais nada. É evidente que temos de falar de uma alimentação correta, temos de falar de algum exercício físico (não chega caminhar). Tudo isso tem de estar aqui encaixado. A menopausa é uma fase da vida da mulher, não é uma doença, e poder ser ultrapassada sem grande dificuldade e sem grande risco. É isto que nos interessa. Nós avaliamos sempre o risco-benefício e é por isso que, do risco-benefício surgem as terapêuticas hormonais, surgem as alternativas e é isso que tem que ser feito.
Agradecimentos.
Dr. Mário de Sousa: As mulheres têm todo o direito de ter qualidade de vida e mantê-la, independentemente da fase de vida em que estão. Nós temos de ajudar a mulher a passar por isto muito bem e num conceito que se chama normalizar o bem-estar.