Janeiro 20, 2022
Dermatite Atópica. Para não quebrar barreiras.
A Dermatite Atópica (DA) é uma doença de pele que se caracteriza pela “dermatite”, ou seja, uma inflamação que se manifesta com vermelhidão, inchaço e sobretudo prurido.
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Para nos falar sobre Dermatite Atópica, contamos com a colaboração do Dr. Raúl Lucas, Chefe do Departamento de Dermatologia Pediátrica do Hospital Universitario La Paz de Madrid.
A Dermatite Atópica (DA) é uma doença de pele que se caracteriza pela “dermatite”, ou seja, uma inflamação que se manifesta com vermelhidão, inchaço e sobretudo prurido. É uma doença crónica e recorrente que afeta principalmente algumas localizações concretas, como pregas junto às articulações, pescoço, pálpebras, lábios, embora possa afetar todo o corpo.
Em 90% dos casos, a dermatite atópica começa logo no primeiro ano de vida, embora possa surgir em qualquer idade. Sabemos também que está relacionada com outras condições “atópicas”, como a alergia alimentar, a asma e a rinite. Alguns defendem que a própria Dermatite Atópica é uma porta de entrada para este tipo de sensibilidades, sobretudo durante os primeiros meses de vida.
Mas o que é que acontece à pele que sofre de DA? A barreira cutânea de um paciente com DA está alterada. Com o termo “barreira cutânea” referimo-nos à função de proteção e isolamento da epiderme, e em particular da sua última camada e mais externa de todas, a camada córnea. No caso da DA, as células da camada córnea estão mais afastadas entre si do que seria normal, o “cimento” que as une é mais fraco e o fator de hidratação natural (uma mistura de lípidos, proteínas, etc…) que cobre a pele está alterado. Esta alteração torna o indivíduo mais vulnerável a substâncias irritantes. Os alergénios e microorganismos podem penetrar mais facilmente, alcançar a derme e provocar inflamações, estimulando os linfócitos T.
Outra questão importante é identificar a causa inicial dessa alteração da barreira cutânea, já que a maioria dos pacientes têm mutações no gene da filagrina, uma proteína essencial para que as células da epiderme, os queratinócitos, amadureçam e se transformem em corneócitos (as células do estrato córneo) que protegem a nossa pele face ao exterior.
Todo este conhecimento fez com que mudasse a abordagem da DA. A reparação da barreira cutânea é essencial para um controlo, a longo prazo, da DA. A utilização de sabões adequados (syndet), emolientes especialmente pensados para esta doença, com fatores estimulantes da síntese da filagrina, aplicados diariamente, integram a nossa estratégia terapêutica. No caso da DA não precisamos de quebrar barreiras, mas sim de restaurá-las.